Tânia Carvalho
Entre a coreografia e a música, entre a dança e o desenho, assim se move a procura, a criação e o trabalho de Tânia Carvalho, uma das mais densas e fascinantes artistas portuguesas da sua geração.
Nascida em Viana do Castelo, Portugal, em 1976, Tânia Carvalho iniciou os estudos de dança na sua cidade natal. Na década de noventa, prosseguiu estudos artísticos na Escola Superior de Arte e Design das Caldas da Rainha, na Escola Superior de Dança de Lisboa e no Fórum Dança.
Na viragem do século, começou a apresentar as suas primeiras criações nos domínios da coreografia:
Daqui aos dias de hoje segue-se uma carreira artística ritmada pela versatilidade e pelo mistério: dos domínios da coreografia, Tânia Carvalho transporta-se frequentes vezes para a composição musical – é autora de várias bandas sonoras das suas próprias peças, como por exemplo a de “Como Se Pudesse Ficar Ali Para Sempre” (2005) e também a de “Síncopa” (2013) – como cantora, em Idiolecto, de 2012, e como pianista em “De Mim Não Posso Fugir, Paciência”.
Desta forma, Tânia Carvalho propõe-se como uma artista cuja vontade de expressão não se esgota numa só linguagem. E este querer dizer da autora contém em si um universo simbólico próprio: as suas criações vagueiam pelas sombras (“Olhos Caídos”, de 2010), pela vivificação da pintura (“Xilografia”, 2016), pelo expressionismo e pela memória do cinema (há O Gabinete do Doutor Caligari e O Sétimo Selo em 27 Ossos), pelos corpos que se transformam noutras coisas que não corpos e pela ideia de liquidificação de algo sólido (“Explodir em Silêncio Nunca Chega A Ser Perturbador”, de 2005 e “Orquéstica” de 2006): assim a artista constrói a sua cosmogonia misteriosa, um conjunto de códigos que transcendem a própria arte movente – seja no cuidado linguístico e semântico que inscreve na titulação dos seus trabalhos (que dizer de Icosahedron, Orquéstica ou de A Tecedura do Caos?), seja na passagem frequente por territórios mais distantes da coreografia, como o desenho (“Toledo”, série exposta no CAAA em Guimarães em 2013, mas também “GLIMPSE – 5 Room Puzzle”, um híbrido entre o desenho e a dança).
Esta densidade e versatilidade na obra de Tânia Carvalho têm-na levado a uma plêiade de espaços e colaborações, do institucional ao alternativo, do formal ao informal.
Ao longo de quase duas décadas, Tânia Carvalho vai fazendo o seu caminho: criterioso e cada vez mais multidisciplinar; cultor de uma depurada lentidão, gerador de universos obscuros e, por tudo isso, fascinante.