Partindo do seu filme “Onde Fica Esta Rua? ou Sem Antes Nem Depois” (2022), realizado em plena pandemia e filmado em 16 mm, os dois cineastas propõem agora um dispositivo de diálogo com o filme “Os Verdes Anos” (1963), obra inaugural de Paulo Rocha e do Novo Cinema Português.
“Sem Antes Nem Depois” é uma instalação fílmica de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata, organizada pela Cinemateca Portuguesa, em parceria com a BoCA bienal e a Sociedade Nacional de Belas Artes, integrada no ciclo de cinema “Malamor/Tainted Love”, que convoca o passado para interrogar o presente. Não se trata de um remake, nem de uma homenagem nostálgica, mas de uma fricção entre dois tempos e dois olhares: Lisboa em 1963 e Lisboa entre 2019 e 2021; juventudes desencontradas, geografias em mutação, silêncios que se acumulam. Os próprios realizadores descrevem os filmes como gémeos dizigóticos de uma mesma partitura — obras separadas por seis décadas que, colocadas lado a lado, iluminam-se e confrontam-se mutuamente.
A instalação propõe ao público essa justaposição sensível: lado a lado, duas imagens da mesma cidade, dois ritmos, dois modos de escutar o tempo e o espaço urbano. O que mudou? O que permanece? E, sobretudo, como ver (ou rever) a realidade a partir do cinema?
“Sem Antes Nem Depois” é um gesto de montagem expandida, onde o cinema se transforma em instalação e o espectador é convidado a entrar nessa dobra entre épocas — não para comparar, mas para sentir o estranhamento de um mundo que já não é o mesmo, embora continue a ser o nosso.

