Em parceria com o Museo Nacional del Prado, em Madrid, a BoCA propõe o ciclo “Palavras e Gestos: para uma coleção performativa no Museo del Prado”. Com uma abordagem interdisciplinar, que inclui as artes visuais (obras da coleção do Museu), o teatro (textos originais de dramaturgos do espaço ibérico) e a dança (alguns dos intérpretes), o ciclo propõe a apresentação de um percurso por quatro novas criações em estreia mundial.
“Palavras e Gestos” consiste num ciclo que convida quatro artistas de teatro – Tiago Rodrigues (PT) com Sofia Dias & Vítor Roriz (PT), Patrícia Portela (PT), Angélica Liddell (ES) e Rodrigo García (AR/ES) – a escrever e dirigir criações inspiradas em obras da coleção do Museu do Prado: “Perro semihundido” de Francisco de Goya, ““El 2 de mayo de 1808 en Madrid o La lucha con los mamelucos” e “El 3 de mayo en Madrid o Los Fusilamientos” de Francisco de Goya, as oito Musas de la Villa Adriana e “Marte” de Diego Velázquez, respectivamente.
Apresentadas em quatro salas distintas, cada performance, com duração aproximada de 30 minutos, constitui um percurso coletivo que o público é convidado a fazer, num Museu do Prado noturno e à porta fechada.

“El Otro Goya” texto de Tiago Rodrigues e direção de Sofia Dias & Vítor Roriz
Como olhar para as pinturas do Museu do Prado se o fazemos na companhia de um cão? A partir de “El Otro Goya”, Tiago Rodrigues propõe um olhar renovado sobre a pintura de Goya a partir de uma experiência singular: visitar o Museu do Prado acompanhado por um cão-guia. Um cão-guia de museu. Esta performance, encenada por Sofia Dias e Vítor Roriz, cruza arte, acessibilidade e imaginação, desafiando modos habituais de contemplar a obra do pintor espanhol. Entre presença animal e perceção humana, a visita transforma-se em narrativa partilhada, onde cada detalhe do quadro se reabre a novas leituras. Que novas razões descobriremos para amar a arte?
Conceito e texto: Tiago Rodrigues
Encenação e performance: Sofia Dias & Vítor Roriz
Agradecimentos: Maria Ibarretxe, Estúdios Victor Cordón, Cátia Mateus
“Hoy, 3 de Mayo” de Patrícia Portela
A partir de fragmentos do seu próprio livro, “Hoje, 3 de Maio”, é uma performance de Patrícia Portela que transforma “esta praça” em território de interrogação e confronto. Entre o carrasco, a vítima, a testemunha ou quem se expõe de peito aberto, cada gesto convoca o público a situar-se num espaço de escolhas e responsabilidades. A partir do quadro “El 3 de mayo en Madrid o Los Fusilamientos” de Goya, Patrícia encena uma arena simbólica onde se testam limites da coragem, da passividade e do compromisso coletivo. As suas palavras Portela ganham corpo, voz e respiração, questionando a nossa posição perante a violência, a memória e a possibilidade de resistência. Quem somos, afinal, quando a história se escreve diante dos nossos olhos?
Conceito, texto e encenação: Patrícia Portela
Intérpretes: Noemi Fernandez e Crista Alfaiate
“Las 20 Jornadas de la Musa de Sodoma” de Angélica Liddell
Angélica Liddell convoca o espírito de Sade como “décima Musa”, protetora da liberdade artística absoluta. Nesta performance, a escritora e encenadora espanhola transforma a perversão em linguagem estética e em sátira feroz contra a hipocrisia do poder, confrontando puritanismo, censura e repressão cultural. Entre mito e ferida, desejo e violência, a cena torna-se um território de choque, onde o prazer se afirma como gesto de insubmissão. “Las 20 Jornadas de la Musa de Sodoma” desafia convenções e mede, com radical beleza, a maturidade de uma sociedade face à arte, ao desejo e à sua própria obscuridade.
Conceito, texto e encenação: Angélica Liddell
Intérpretes: Yuri Ananiev
Assistência: Gumersindo Puche e Jaime del Fresno
“Marte” de Rodrigo García
Rodrigo García escreve uma comédia breve a partir de uma obra de Velázquez, escolhida a contragosto, para expor o absurdo da glorificação da guerra. Num tempo em que a despesa militar cresce e se torna quase consensual, “Marte” ironiza a convicção de que matar é inevitável, necessário e até louvável. O tristemente célebre “5%” em investimento militar poderia servir para melhorar a vida, mas é entregue ao deus da guerra. Entre humor negro e crítica feroz, a cena revela a violência escondida na normalidade e questiona a passividade coletiva perante a lógica militar.
Conceito, texto e encenação: Rodrigo García
Intérpretes: Ariadna Diaz Amores, Guillermo Jiménez Sánchez, Daniel Mantilla Ramírez, Ainhoa Merino Riaño, Nerea Pascual Hernández
Assistência e Vídeo: Arturo Iturbe
Agradecimentos: Primera Toma