O espetáculo “Os Rapazes da Praia Adoro” nasce de um convite conjunto da BoCA com o Teatro do Bairro Alto. Uma nova criação que propõe um diálogo singular entre dois artistas, um português e um espanhol, e entre dois campos artísticos, o teatro e a pintura.
Nas pinturas de João Gabriel vislumbravam-se fantasmas errantes nas praias. Nas peças do dramaturgo e encenador Alberto Cortés reconhecem-se palavras e corpos que se revelavam como paisagens. Deste encontro surge a visão de dois corpos masculinos, um português e outro espanhol, que se encontram numa praia a meio caminho entre Lisboa e Madrid, a uma distância precisa de 312,45 quilómetros de cada cidade. Essa praia, intitulada Praia Adoro, assume-se como uma odisseia, um buraco espaço-temporal e um paraíso queer.
Na Praia Adoro, estes dois corpos unem-se, fundindo-se na intimidade dos recantos naturais que oferecem os espaços de cruising. Unem-se para se reconhecerem, relacionando-se sexualmente num ato íntimo que procura saldar as dívidas pendentes entre dois países que vivem de costas um para o outro. Tomando como referência a intimidade presente no arquivo audiovisual do cinema pornográfico dos anos 70 e 80 que inspira as pinturas de João Gabriel, as palavras sobrepõem-se a esses corpos, imaginando outra forma de intimidade gay, também atravessada pela delicadeza e pela poesia. Supõem-se outras formas de entender o sexo entre homens, talvez como uma necessidade atual de que seja uma ação curativa. Porque assim o desejam.

