Na 5ª edição da BoCA Bienal, o ciclo de performances em espaços naturais “Quero Ver as Minhas montanhas” regressa com três performances das artistas Isabel Cordovil, Gemma Luz Bosch e Janet Nóvas que revisitam o legado de Beuys. Entre Lisboa e Madrid, as suas criações inéditas inscrevem novos vínculos entre arte, ecologia e imaginação.

Da Idade do Bronze às urgências ambientais do presente, esta performance investiga a evolução do escudo como objeto de proteção, transformando a defesa num gesto poético e político. Através de uma narrativa que cruza arqueologia, ativismo e ficção, o trabalho revela a continuidade entre os escudos que protegem corpos humanos e aqueles improvisados para defender corpos não humanos, como as árvores urbanas.
O ponto de partida da pesquisa são os protestos madrilenos de 2004, nos quais os manifestantes criaram barreiras humanas para salvar as árvores do Paseo del Prado. Inspirada por este ato, a performance projeta um novo capítulo para essa história: a apresentação de um “Escudo Anti-Abate” concebido para a polémica de 2025 em Lisboa, onde os jacarandás da Avenida 5 de Outubro estão ameaçados.
A performance convida o público a uma caminhada reflexiva, com início no Goethe-Institut, em Madrid, e na Biblioteca Nacional, em Lisboa, rumo ao local da ação, reimaginando coletivamente a relação entre cuidado, resistência e espaço público.

Biografia
O trabalho de Isabel Cordovil (Portugal, 1994) desenvolve-se entre noções de arqueologia narrativa e a reinvenção simbólica. O seu campo de ação abrange a instalação e a escultura - frequentemente marcado por uma sensibilidade teatral e por um profundo envolvimento com os materiais, formas e rituais da tradição iconográfica - com o intuito de reinventar e re-explorar mitos, folclore, imaginário religioso, literatura, paisagens oníricas e o inconsciente coletivo. Cordovil encara a linguagem e os símbolos como instrumentos mutáveis de criação de sentido, acolhendo a má interpretação, a manipulação e a distorção lúdica como estratégias para ampliar a sua agência.
Sobre o ciclo “Quero ver as Minhas Montanhas”
Em 2021, no centenário de Joseph Beuys, a BoCA inaugurou o projeto “A Defesa da Natureza”, uma proposta a dez anos que parte da ação 7.000 carvalhos para pensar a ecologia como gesto artístico e coletivo. Inclusivo e participativo, o projeto convida cidadãos a plantar árvores e a nomeá-las, numa prática que prolonga a ideia de Beuys de que “todos podemos ser artistas”. A este gesto inicial sucede-se a criação de performances, encontros e debates, aliando programação artística à criação de espaços naturais. Foi neste contexto que nasceu no mesmo ano o ciclo “Quero Ver as Minhas Montanhas”, com curadoria de Delfim Sardo e Sílvia Gomes. Artistas como Sara Bichão, Diana Policarpo, Dayana Lucas, Gustavo Sumpta, Gustavo Ciríaco, Musa paradisiaca e o coletivo Berru criaram intervenções em paisagens naturais de Lisboa, Almada e Faro.