Em “Dialecto”, o artista colombiano Felipe Romero Beltrán convoca a poética da fotografia social, do documentário, da performance e da coreografia para questionar, social e politicamente, o tempo morto da burocracia que enfrentam os jovens migrantes apanhados nos meandros do sistema judicial espanhol.

Apresentado pela primeira vez de forma integral, entre o MNAC e as Carpintarias de São Lázaro, “Dialecto” acompanha ao longo de três anos nove jovens migrantes marroquinos exilados num limbo kafkiano em Sevilha, no sul de Espanha. Quando os migrantes menores de idade entram ilegalmente no país e não podem ainda ser considerados adultos, ficam à custódia do Estado, que os submete a um longo processo de quase três anos para poderem obter o seu estatuto legal.

Neste estado de suspensão e liminalidade, o artista aborda o corpo como metáfora: mediante uma linguagem cuidadosamente articulada entre a fotografia, a performance e a colaboração coreográfica, o peso do tempo morto fica registado sobre os ombros destes jovens, dialogando com as suas memórias, viagens e a humilhante mundanidade da espera e da imigração. Reunindo obras de vídeo, instalação e fotografia, “Dialecto” abre novos caminhos documentais que lançam um olhar crítico sobre as práticas da opressão burocrática, não apenas em Espanha, mas também em Portugal.