Em “Lavagem”, a mais recente obra da coreógrafa brasileira Alice Ripoll e Cia. REC, a realidade e a fantasia misturam-se em delírio, como num sonho apocalíptico. Com a ajuda de baldes, água e sabão, a performance investiga imagens ambivalentes a partir do ato de lavar, com desdobramentos cénicos e históricos observados criticamente. Os objetos usados desdobram-se em múltiplas imagens poéticas de êxodos, travessias, rituais, renascimento e resistência.
No português do Brasil, a palavra “lavagem” significa limpeza, o ato de limpar, saneamento, mas também significa sujidade num outro sentido: “lavagem de dinheiro” é uma expressão utilizada para disfarçar a origem ilícita de dinheiro; “lavagem cerebral” é o que alguém faz a outra pessoa para controlar e pôr a pensar de determinada maneira.
O que de fato precisa ser limpo? As casas, a sujidade? Rastros deixados, fatos da História? Odores dos fluidos do corpo, quando nos aproximamos? A espuma tinge os corpos e remete à invisibilidade, as bolhas sugerem um mundo de sonhos, em contraste com a dura falta de mobilidade social do mundo real.
Alan Ferreira
Hiltinho Fantástico
Katiany Correia
Rômulo Galvão
Tony Hewerton
Tuany Nascimento


“Lavagem” apresenta uma ancestralidade cheia de lutas e também segredos sobre a alegria de não ficar obcecado em vencer a corrida pela maior capital.