Em diálogo com a exposição de Neusa Trovoada, a encenadora e atriz Zia Soares – a primeira mulher negra a dirigir uma companhia teatral portuguesa – apresenta a performance “Coro dos Assombrados”, no terraço da Fábrica da Cerveja. A artista investiga as relações de poder coloniais e pós-coloniais a partir de um universo poético e plástico que forja uma contra-memória para a Europa. Com texto de Djaimilia Pereira de Almeida, a performance reúne um conjunto de vocais inquietantes enquanto reflete sobre silenciamentos históricos e a potência política e subjetiva da voz.

“Coro dos Assombrados dá-se na boca. Anda de boca em boca até entrar na minha. Engulo peles desfeitas e ossos de corpos que vêm de lá, do outro lado, misturados com sapatos e lamentos, para me encontrar. A boca devoradora tem de expelir estes corais salsuginosos. E depois de sangrar o sal das feridas, a boca, couraçada, adormece na noite dos silêncios cintilantes.” (Zia Soares)