Foi em Bacantes – Prelúdio para uma purga (2017) que a coreógrafa Marlene Monteiro Freitas começou por manipular estantes de partitura. Na instalação Cattivo – da boca para fora, em colaboração com André Calado, Andreas Merk , Miguel Figueira, Tiago Cerqueira e Yannick Fouassier, dá-lhes protagonismo. Comissionada pela BoCA e estreada mundialmente na edição BoCA 2019, no Mosteiro São Bento da Vitória / Teatro Nacional São João, a instalação é agora apresentada no São Luiz Teatro Municipal, em Lisboa.
Em Cattivo – da boca para fora, as estantes são objetos de pedestal, compostos por partes diversas com dimensões e formas variadas, ligadas entre si através de rótulas, como as marionetas que, por sua vez, são feitas à semelhança do esqueleto animal ou humano. As estantes de partitura são corpos desdobráveis com o propósito de servir de apoio à partitura dos músicos, que tocam ou cantam. A sua forma e função são aparentemente indissociáveis, a não ser quando Marlene lhes atribui novos significados e usos, desde logo extraindo-lhes qualidades antropomórficas. Em Cattivo, as estantes são exploradas até ao limite das suas propriedades expressivas, a capacidade para encarnarem estados emocionais e tomarem decisões, manipulando-se a si mesmas e a outros objetos, constituindo-se como equipa numa comunidade sinfónica, com diferentes instrumentos, ritmos, linhas melódicas…


Marlene Monteiro Freitas em colaboração com André Calado
Andreas Merk, Miguel Figueira
Tiago Cerqueira e Yannick Fouassier
Como palco, jardim ou casa de bonecas, a instalação situa-se entre o vegetal, o animal e o mundo da fantasia. “Sós, no espaço, conseguirão estas estantes convencer-nos da sua performance (…) Quebrámo-las, dobrámo-las, desarticulámo-las, machucámo-las e elas, pelo seu lado, morderam-nos, magoaram-nos, traíram-nos, resistiram-nos. (…) Elas certamente dirão mais, e mais acertado, pelas suas bocas, do que eu alguma vez pude dizer ou direi deste trabalho.”



