“De Espiral en Espiral” é a nova performance do artista visual Naufus Ramírez-Figueroa, comissionada pela TBA21 e co-produzida pela BoCA Bienal, como parte da sua exposição individual do artista no Museo Reina Sofía. A peça dá continuidade ao seu trabalho de desmontagem de narrativas hegemónicas, colocando a performance como um campo de tensão entre história oficial e práticas marginais.

Tomando como ponto de partida os baralhos de cartas — artefactos coloniais regulados com rigor pela Coroa Espanhola como forma de controlo económico e simbólico — Ramírez-Figueroa traça um percurso sinuoso entre imposição e desvio, poder e feitiçaria. Na sua família, essas mesmas cartas, outrora instrumento de jogo e de lucro imperial, tornaram-se ferramentas de adivinhação nas mãos das mulheres, veículos de sobrevivência e transmissão de saberes ocultos.

“De Espiral en Espiral” invoca esse desvio como forma de resistência: a partir de um gesto íntimo, subverte-se a lógica do império. A performance transforma o palco num espaço onde o político e o afetivo se entrelaçam, e onde o corpo do artista se torna um médium entre temporalidades, geografias e linguagens.
Num tempo em que o passado colonial continua a reverberar, “De Espiral en Espiral” propõe uma leitura sensível das suas marcas — não como arquivo morto, mas como espiral viva que insiste em reaparecer.