Este workshop dirigido por Dino D’Santiago convida-nos a refletir sobre como a música desempenha um papel vital na resistência à opressão colonial e na busca pela emancipação coletiva.

O Funaná e o Batuku são expressões culturais de resistência e identidade em Cabo Verde, ambas surgindo como manifestações populares durante o período colonial. O funaná, originário do interior de Santiago, foi inicialmente estigmatizado pela Igreja e pelo regime colonial, mas resistiu nas zonas rurais e espalhou-se para os centros urbanos após a independência.
O Batuku, uma expressão predominantemente feminina, é marcado por uma dança circular e o uso da txabeta. Apesar de também ter sido alvo de repressão durante o período colonial, sendo considerado imoral e subversivo, o Batuku resistiu e tornou-se um ritual de celebração e resistência.
É a partir desta herança de resistência, que o músico Dino D’Santiago nos convida a refletir em como a música desempenha um papel vital na resistência à opressão colonial e na busca pela emancipação coletiva.
Biografia
Dino D’Santiago (Quarteira, 1982) é músico, compositor e ativista. Filho de pais cabo-verdianos, cresceu entre o Algarve e a tradição oral africana, territórios que mais tarde cruzaria com as linguagens da eletrónica, criando uma sonoridade singular no panorama musical português. Iniciou o percurso na televisão, mas foi na composição autoral que consolidou o seu lugar: Eu e os Meus (2008) e Eva (2013) marcaram a sua estreia a solo. Uma viagem à ilha de Santiago transformou o seu percurso artístico, dando origem a Mundu Nôbu (2018), álbum que o revelou ao grande público e redefiniu o seu universo musical. Desde então, tem explorado cruzamentos entre funaná, morna, batida, gospel, soul e R&B, dando corpo a uma música de resistência e cura, marcada pela diáspora. Reconhecido com vários prémios — incluindo três Play em 2019 —, colaborou com artistas como Branko, Slow J, Julinho KSD, Pedro da Linha e Madonna, integrando a digressão Madame X. Fora do palco, tem-se afirmado como curador e agente de transformação social: fundou a plataforma Lisboa Criola, com que promove artistas afrodescendentes em instituições como o MAAT, a Gulbenkian, a BoCA ou o Festival Iminente. Em 2023, participou na Bienal de São Paulo, a convite de Grada Kilomba. A sua música é também uma declaração política: canta em crioulo, português e inglês, para dar voz a memórias e futuros comuns, entre a ancestralidade e a reinvenção. Dino D’Santiago é hoje uma figura incontornável da cultura portuguesa e da nova música global.