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E se o autobiográfico não for mais do que a história dos outros a atravessar-nos?
A prática artística do argentino Gabriel Chaile assenta na investigação de longa data de comunidades empobrecidas, rituais e hábitos da sua casa na Argentina. Criado na cidade de San Miguel de Tucumán, no norte da Argentina, com herança espanhola, afro-árabe e indígena da Candelária, Chaile cria espaços onde precedentes históricos, epistemologias indígenas e convenções artesanais prescientes misturam-se com a vida contemporânea.
Grande parte da sua produção recente inclui objetos escultóricos como potes e fornos de barro que, muitas vezes, assumem traços antropomórficos. Assim, o artista procura invocar a memória de pessoas e marcos da resistência civil a partir dos rituais comunitários e celebratórios em torno da comida – na sua sabedoria e fazer ancestral, na sua dimensão de cura e, enfim, na sua multifunção de alimentação do corpo, da alma e dos espíritos.
A convite da BoCA, Gabriel Chaile cria uma nova instalação para a Praça do Carvão do MAAT – um tributo a Alcindo Monteiro, jovem português, nascido em Cabo Verde, brutalmente assassinado em 1995, num crime que expôs, e continua a expor, o racismo estrutural que encontra espaço e legitimação no país. Em torno do forno-retrato de Alcindo, prevê-se uma série de ativações coletivas, em quatro datas, com comida, debates, música e exibição de filmes. Compondo minuciosamente este momento do encontro – de lugares, tempos e identidades –, repleto de calor e pertença, Chaile coloca a sua escultura “Auto-Retrato” frente a frente com o forno “Alcindo Monteiro”, num esforço de implicar o seu corpo nesta troca de olhares e histórias, com honestidade e empatia. “E se o autobiográfico não for mais do que a história dos outros a atravessar-nos?”, pergunta Chaile.
Comissão e produção: BoCA – Biennial of Contemporary Arts
Curadoria: John Romão
Parceria: MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia
Apoio à programação do programa público: Lisboa Criola