Depois de “Carta” – peça estreada já este ano, no Teatro D. Maria II, com 32 mulheres em palco e que representa o culminar de sete anos de trabalho a partir do seu antecessor, “Ensaio Para Uma Cartografia” –, Mónica Calle regressa ao registo intimista e ao trabalho sobre o texto, mas num contexto muito especial. Em “Entre o Céu e a Terra”, Mónica Calle parte da escrita de Fiama Hasse Pais Brandão e desenvolve uma nova criação, a convite da BoCA, para um cenário natural: entre a praia e as dunas, na Costa da Caparica.
As três atrizes – Mónica Calle, Mónica Garnel e Inês Vaz – partiram numa peregrinação a pé, de 26 dias, desde a Sé de Lisboa até Santiago de Compostela. Um caminho de fé que integra o díptico “Caminho Para a Meia Noite”, que Calle irá apresentar com as duas atrizes, ainda este ano, no TBA. Este “Entre o Céu e a Terra” integra este conjunto de projetos, como um primeiro momento de apresentação pública, e com características muito específicas: foi pensado para a conhecida praia naturista da Costa da Caparica, fazendo emergir os espectadores num percurso pelas dunas e pela zona de mata, até ao seu encontro. Mónica volta à reflexão sobre identidade e representação feminina, investindo na marginalidade do seu teatro radical e poético.
Para poucos espetadores, em três sessões diárias, “Entre o Céu e a Terra” leva-nos a um território inominável: “No Apocalipse os demónios arrependidos serão anjos e os anjos culpados serão demónios, ligados , fisicamente, costas com costas” (Fiama Hasse Pais Brandão em “Eu vi o Epidauro”).