
Romeo Castellucci apresentou-nos o masoquismo e a crueldade nos clássicos mais intocáveis. Depois de estrear em 1997 uma polémica versão de “Júlio César” que surpreendeu a Europa, Castellucci apresenta agora uma versão sintetizada e destinada a espaços não-convencionais. Neste drama da voz, encontramos duas personagens misteriosas: “…vski”, uma espécie de Stanislavski, e Marco António, interpretado por um ator com laringectomia.
Enquanto o primeiro filma com um endoscópio a vibração das suas cordas vocais, mostrando a origem sexual da palavra e o encaminhamento da palavra livre e da voz, instrumento do ator e da arte da oratória; o segundo inicia a partir do esófago o seu apelo ao povo, numa meditação sobre a mortalidade e o seu significado. Os corpos-estátuas dos intérpretes são literalmente virados do avesso.
Combinando elementos que provêem da escultura, da tecnologia e do mundo animal, Romeo Castellucci desobedece uma vez mais às convenções e limites das disciplinas, colocando estes dois representantes complementares da oratória no coração de um “Júlio César” renascido. Tocando na democracia, na retórica e no ritual, este é encontro visceral com um teatro tão perturbador quanto transcendente.
Intervenção dramática sobre William Shakespear
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