Multidisciplinar e universal: o balanço da BoCA Summer School 2024
“Os workshops são espaços para comprovar que as filosofias, os diferentes pensamentos e ações encontram sempre uma nova vida no outro. É por isso que temos que continuar a partilhar constantemente tudo o que aprendemos.” As palavras do artista multidisciplinar Niño de Elche, em jeito de balanço de Esculpir as Vozes no CCB, também resumem na perfeição os objetivos da BoCA Summer School. E foi assim, com um total de 79 participantes, que se concluiu a sua oitava edição, que em 2024 contou com uma muito enriquecedora diversidade de propostas.
O coletivo indígena Huni Kuin, que se traduz por “Gente Verdadeira” e habita a zona de floresta tropical entre o Brasil e o Peru, trouxe ao MAAT as suas tradicionais práticas performativas e musicais em três momentos diferentes. E abriu a BoCA Summer School 2024, no dia 5 de julho, reunindo Zenira Neshane, Sabino Dua Ixã e Txaná Nixiwaka numa conversa sobre as práticas artísticas e sociais que guiam As Cosmovisões Huni Kuin. Seguiram-se, nos dias 6 e 7, os workshops Corpo e Natureza, propondo, a partir do perspetivismo Ameríndio, uma reflexão e prática acerca do papel que a arte pode desempenhar no fortalecimento dos corpos, e Cantos na Cosmovisão Huni Kuin, experiência imersiva com exercícios em que a voz e a melodia se tornam instrumentos e veículos para agir no mundo, constituir os corpos e bem viver.
Em agosto, chegou a vez de Gabriel Chaile nos trazer A Engenharia da Necessidade. Sexta 30, estivemos à conversa no MNAC do Chiado, e sábado 31 o artista visual argentino recebeu-nos no seu estúdio para evidenciar a forma como os objetos se podem adaptar a diferentes utilizações e contribuir para acionar transformações sociais e políticas. Em foco estiveram ainda as suas esculturas-forno, obras de arte que estabelecem novas ligações entre as pessoas, a preparação da comida e os rituais de partilha.
Já os bailarinos e coreógrafos portugueses Sofia Dias & Vítor Roriz trouxeram Distorção ao CCB, em três dias de formação entre 19 e 21 de setembro. Trabalhando a relação entre o gesto e a voz, a dupla convidou-nos a tatear os limites físicos e emocionais, a procurar o lugar de transição entre a familiaridade e a estranheza.
Finalmente, entre 15 e 17 de outubro, Niño de Elche veio ensinar-nos a Esculpir as Vozes. O artista espanhol – multidisciplinar e indisciplinado – trouxe-nos uma oficina de três sessões que permitiu perceber o poder de transformação e transformador da voz. Partilhando a questão fundamental a todas as artes, do tempo e do espaço. “O tempo como algo perene, em que estamos imersos, e o espaço entendido como arquitetura carnal, espiritual e espacial”.
Todos os anos, prestigiosos artistas e pensadores nacionais e internacionais dirigem workshops e talks em diversos teatros, museus, centros culturais e espaços naturais de Lisboa. A BoCA Summer School dinamiza um espaço de encontro, de diálogo e de novos futuros, com o apoio da DGArtes, da Fundação GDA, da Fundação Millennium BCP e da Câmara Municipal de Lisboa.