Para além da ópera “A Vaia Viva”, com estreia na bienal, a BoCA promove com o MAAT e a Biblioteca de Marvila um ciclo de atividades em torno do músico Pedro Sousa.

Jerry True era um saxofonista – virtualmente desconhecido – de orquestras e big bands em Hastings, Nevada. Na fase final da sua vida teve um cancro na garganta que o impediu de continuar a tocar saxofone. Determinado, arranjou um pequeno compressor de ar portátil e acoplou a mangueira à sua boca para poder ter a pressão sonora e, assim, continuar a tocar o seu instrumento. Esta história criou a base de pensamento para “Performance for plural larynx: A song for True” do músico Pedro Alves Sousa, apresentada pela primeira vez em Nova Iorque, no âmbito da Bolsa Ernesto de Sousa, da qual foi vencedor em 2013. Sousa desenvolveu esta performance durante a sua residência na Experimental Intermedia de Phil Niblock.

Os instrumentos musicais foram, ao longo da história, tidos maioritariamente como inertes ao carecerem de intervenção humana. Num período histórico em que harpas eólicas estavam em voga, e no advento da era dourada da música mecânica, o saxofone, criado na primeira metade do século XIX, era um expoente de criação humanista e tecnológica. Se os avanços de automatizações, através de computadores, protocolos MIDI e variadas máquinas permitiram graus diferentes de ambiguidade no conceito do que consiste um músico ou instrumentista, o saxofone transcende essa ideia: mais do
que manipulação, requer também esforço físico, com restrições muito claras.

Nesta peça, que vai ser apresentada na Galeria Oval do MAAT, Pedro Alves Sousa procura levar o instrumento ao limite das suas capacidades, contornando o fator humano: os nossos pulmões têm limites tanto em capacidade de volume de ar – quanto tempo pode um saxofone tocar uma só nota sem parar – e quantos decibéis somos capazes de produzir. Explodindo com estes confinamentos, o instrumento ganha uma dimensão industrial, mas a perceção sonora torna-se subjetiva pois vibra e processa-se mais através do corpo do que do uso dos ouvidos.

Em honra da memória de Jerry True, a performance foi apresentada ao público pela primeira vez em Nova Iorque, em 2014, logo após a sua morte.

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