João Pedro Vale & Nuno Alexandre Ferreira têm desenvolvido a sua prática em torno das artes visuais e têm atravessado um conjunto de projetos, muitos em colaboração com outros criadores, que resultam em filmes, instalações, fanzines, performances, cenografias e curadorias.
Para este espetáculo, os artistas recorrem ao imaginário circense para elaborar uma parábola absurda sobre a diferença, o estigma, a normatividade, a discriminação e os limites do convencional, partindo de dois filmes essenciais para a construção do seu imaginário em torno do circo – “Freaks” (1932) de Tod Browning e “Os Palhaços” (1970) de Federico Fellini.
Quer a dúbia duplicidade da categorização de “freak” exposta por Browning, quer a proposta de Fellini de uma visão do circo enquanto metáfora da vida, são aqui apropriadas e contextualizadas numa sociedade atual onde, tal como o título indica, se utiliza a clássica divisão entre palhaços ricos e pobres para falar de um contexto económico de crise.
O circo, pelo seu caráter comunitário e nómada, com uma estrutura e vivência muito própria, apresenta-se como um último reduto de resistência à assimilação pela economia capitalista que carateriza a sociedade ocidental. Movendo-se nas franjas da sociedade dita global responsável pela massificação de políticas económicas e organizações sociais cada vez mais ingerentes e normativas, o circo continua a ser uma metáfora de tudo o que é considerado diferente e desviante, sendo esse um dos temas centrais do espetáculo “Palhaço Rico Fode Palhaço Pobre”.


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