JENNY HVAL
Sem modéstias, Jenny Hval é um milagre absoluto da experimentação pop. A afirmação soará forte, mas nunca tanto quanto o vigor do trabalho da artista norueguesa. Vinda de um meio performativo, a palavra e o som são moldados à luz de uma linha conceptual que tanto tem de apocalíptico quanto de esperançoso.
É nesse limbo que se movimenta, jogando cartas associadas ao feminismo ou capitalismo, baralhando pequenos estímulos sensoriais dispostos à descoberta de quem a escuta. A voz libidosa releva-se nos teclados aveludados e penetra nas paisagens ásperas e frias com uma clareza sórdida do uso das letras que assina.
Essa aptidão nata de disturbar e seduzir, em proporções idênticas, é possivelmente o seu trunfo; um trunfo inimitável, alcançado com apenas dois portentos discográficos cujo impacto ainda nos encontramos a digerir. O mais recente “Blood Bitch” aprofunda o que “Apocalypse, Girl” já dera a sugerir, acrescentando mais pistas – e ainda mais enigmas, na verdade – ao esboço possível da figura rara de Hval. texto de Nuno Afonso
Após o concerto: DJ AWESOME TAPES FROM AFRICA