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Ecotemporâneos: Mamadou Ba
Ecotemporâneos
Uma comunidade aberta de leitores em espaços verdes e imaginários
Criando um eco com o futuro – Lisboa Capital Verde Europeia 2020 – a bienal de artes contemporâneas BoCA, em parceria com a EGEAC, inicia em 2019 um projecto a longo prazo que relaciona a ocupação de espaços verdes da cidade de Lisboa, a sua acessibilidade e fruição, através da criação de uma comunidade de leitura inclusiva e acessível. Como pode a leitura tornar-se um gesto reflexivo em torno da atualidade e da biodiversidade e, simultaneamente, ser um gesto amplamente inclusivo e artístico?
Ecotemporâneos é uma comunidade de leitura em espaços verdes da cidade de Lisboa. Aberta, inclusiva e acessível, é constituída por um grupo diverso: normovisuais, deficientes visuais e deficientes auditivos.
Ecotemporâneos partilham um mesmo tempo (contemporâneo) e um mesmo espaço (meio ambiente) em torno do acesso à literatura e da relação desta com o lugar.
Para cada sessão, um convidado – figura pública representativa da cultura e da sociedade contemporânea portuguesa – escolhe um livro, que deverá ser lido em casa. Ao vivo, serão lidos alguns excertos entre os presentes, o livro é apresentado pelo convidado, tal como a relação entre o livro e aquele espaço verde. O cultivo do jardim, apresentado pelo seu jardineiro, e a cultivo da literatura, desenvolvido pelo convidado e pelos participantes. Alguns livros serão impressos em braile, outros distribuídos de forma gratuita e haverá tradução ao vivo para língua gestual portuguesa, tornando acessível a leitura e o diálogo entre todos.
Inclusivo, acessível, refletindo sobre o ambiente e a experiência artística, aqui são todos bem vindos. Aqui somos todos Ecotemporâneos.
CONVIDADO A 20 ABR
MAMADOU BA (Dirigente do SOS Racismo)
LIVRO ESCOLHIDO
“Dois corvos amarelos” de Matamba Joaquim e de Bernadete Pinheiro
Diz-nos Mamadou Ba:
“A questão do lugar é das mais centrais no debate sobre o racismo em sociedades onde a colonialidade assume relevância cultural. Por ela e através dela passam muitas disputas epistemológicas, teóricas, doutrinárias e ideológicas que ultrapassam o debate da mera formulação teórica sobre a descolonização. Numa altura em que está tão vivo o debate sobre a disputa pela memória, a reivindicação do lugar/direito de ser, de estar, de escuta e de fala dos sujeitos racializados no espaço público, numa sociedade pós-colonial, discutir a obra de uma escritora negra e de um escritor negro que estão fora do circuito convencional, é um enorme desafio. Pois, a presença de corpos negros num contexto e num espaço tradicionalmente de privilégio branco tem um significado, para lá do simbólico, muito disruptivo. “Dois corvos amarelos” de Bernadete Pinheiro e de Matamba Joaquim é quase um trilho cheio de primaveras vividas e por viver, com as inerentes angustias e esperanças que a vida acarreta. O livro pode ser lido como uma metáfora do sentido mais profundo das pequenas coisas que inexoravelmente nos empurram para as grandes aventuras e para os sonhos de liberdade. No fundo, o livro é uma deambulação das formas de presença quotidiana do corpo negro no espaço público cercada pela branquitude.”
Ecotemporâneos
Concepção: John Romão
Produção: BoCA
Co-produção: EGEAC Espaço Público
Apoios: ACAPO, Câmara Municipal de Lisboa, Estufa Fria, Obnósis Editora