BoCA Summer School: Corpo e Natureza
Workshops “Corpo e Natureza”
Neste primeiro workshop, guiado pelo perspetivismo Ameríndio, o coletivo propõe uma prática e reflexão acerca do papel da arte no processo de fortalecimento de corpos numa sociedade indígena Huni Kuin. Quando nascem, por exemplo, os huni kuin pintam as crianças com a tinta que extraem do fruto jenipapo, para que os cantos possam penetrar na sua pele e fortalecer o seu corpo. Este é apenas um dos diversos ritos tradicionais deste povo, ricos em elementos que conectam mundos.
No workshop Corpo e Natureza, o coletivo e participantes atravessam uma visão de mundo não-dualista e uma construção epistemológica numa sociedade amazónica. Durante a formação de dois dias, cada corpo assumirá diferentes faces: ora instrumento, ora embarcação coletiva, ora suporte para intervenção artística, simbólica e comunicativa com a natureza através da descoberta da pintura.
O workshop termina com uma performance ritual do Katxa Nawa, que envolve dança, canto e movimento, numa manifestação participativa que evoca fertilidade e potência para humanos, vegetais e animais.
BIOGRAFIAS
Zenira Neshane Huni Kuin
Zenira Neshane é filha de Maria Sabino Huni Kuin e Sabino Ixã Huni Kuin, duas importantes lideranças do povo Huni Kuin. Neshane aprendeu desde cedo com a sua mãe sobre artesanato, grafismo, culinária e os saberes das mulheres dentro da tradição do seu povo. Além de mestra e artesã, é uma das poucas mulheres Huni Kuin reconhecidas como “pajé”, pois carrega muitos conhecimentos sobre as práticas de medicina tradicional do seu povo. Neshane é também precursora do movimento feminista Huni Kuin, sendo uma das primeiras mulheres da sua terra indígena a sair do território, conduzindo oficinas e atividades de intercâmbio cultural em diferentes estados do Brasil e do exterior.
Sabino Dua Ixã
Sabino Dua Ixã é um ancião Huni Kuin que atua como liderança política e espiritual. Viveu e trabalhou no seringal, participou ativamente da luta pelo direito de demarcação das suas terras e estudou com grandes pajés para se tornar um dos maiores mestres do Huni Meka (canções cerimoniais) do povo Huni Kuin. Sabino vive com toda a sua família numa das aldeias mais distantes do Alto Rio Jordão, local onde chegam pouquíssimos bens de consumo da cidade e onde se mantém uma profunda comunicação com o território.
Txaná Nixiwaka
Txaná Nixiwaka Huni Kuin é de uma jovem geração de Txanás, ou artistas pajés, da aldeia mais distante do Rio Jordão. Desde a infância, dedicou-se ao estudo da canção tradicional, pintura e desenhos relacionados à tradição do seu povo. É casado com uma das netas de Sabino Dua Ixã, de quem é aluno, e foi por ele convidado a sair pela primeira vez da sua aldeia para representar a sua comunidade.
Mediação, Pesquisa e Produção
Rodrigo Moreiras
Rodrigo Moreiras é psicólogo pela PUC-Rio e mestre em Arqueologia pelo Museu Nacional do Rio de Janeiro. Trabalha com o povo Huni Kuin há 16 anos, através de projetos de saúde indígena, autonomia financeira, infraestrutura, etnoturismo e intercâmbio cultural. É fundador do coletivo Guardiões Huni Kuin do Rio de Janeiro e do Instituto Guardiões da Floresta, onde atua como diretor científico, organiza experiências de intercâmbio cultural em diferentes países e coordena o projeto Expedição Huni Kuin. Também trabalha, clinicamente, relacionando o conhecimento da psicologia aos saberes de povos originários em diferentes processos terapêuticos individuais e coletivos.
Mariana Carvalho
Mariana Carvalho é produtora cultural e educadora, com pesquisa em educação indígena, pela Universidade Cândido Mendes do Rio de Janeiro. Trabalha com o povo Huni Kuin há 16 anos por meio de projetos relacionados à educação indígena, intercâmbios culturais, infraestrutura e autonomia financeira. É fundadora do coletivo Guardiões Huni Kuin do Rio de Janeiro e do Instituto Guardiões da Floresta, onde atua como vice-presidente, coordena o programa de intercâmbio cultural do instituto, o projeto Expedição Huni Kuin e coopera para a melhoria nas condições de infraestrutura das aldeias da terra indígena do Rio Jordão.
Consultoria, Mediação e Curadoria
Ana Rocha
Ana Rocha, coreógrafa, curadora e performer, faz mediação na área da cultura e das artes há 23 anos. Ana opera em campos de multiplicidade e diversidade cultural, relacionando pontos de reflexão e transição a partir do acompanhamento e consultoria em instituições, organizações sem fins lucrativos, coletivos artísticos e criadores nacionais e internacionais. É formada em Artes Visuais e História da Arte e doutoranda em Ecologia Humana na Universidade Nova de Lisboa.